Não tenho âncoras para tanto rio nem um abraço que me cubra o frio. Gelada cortina que se deixa cair, como as casas que vejo sem amor a ruir. Não me contem histórias, não quero ouvir. Não saias do teu sítio, prefiro ser do que sentir. Passeio as malas que fui enchendo, passando por tudo o que fui conhecendo. E não conheço ninguém, não sou de ninguém. Por certo que sei que sou alguém. Mas quem? E se tenho alma, de onde vem? Que destino fez de mim o bobo em vez do rei? Fala baixinho como vento e Deus sabe que eu tento. Oiço as palavras mas não ficam dentro, são verdades de um só momento. Eu esqueço e perco o alento. De tudo o que fui, só queria a esperança que nem toda a tempestade trás a bonança. Se me ouves, é no teu peito que o meu dança. Eu, tu e a lembrança.
O fado que eu escrevi, foi o que para mim quis. O fado que me foi escrito, eu cumpro e nem acredito.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
domingo, 6 de abril de 2014
.Sete Mares
Eras o que eu nem sabia que viria, todas palavras num só dia e eu nem sei onde me perdi. Voltei atrás e não te vi. Sonhei de novo e só senti que o presente não me quer a mim, quer tudo o que não vivi. Eras como se não tivesses importância, porque eras tudo o que é importante. Como do navio, o comandante que ninguém sabe o nome. Eras do meu futuro, o sobrenome. E hoje já nem existes e ainda assim, na minha alma persistes, como se só a memória te fizesse viver quando eu mesma te vi morrer nos braços de quem eu não conheço. E ainda bem que não te mereço que de ti já pouco vejo. Talvez a voz desse desejo seja a luz que nunca vejo quando em mim morreste num beijo que foi a mágoa, o fim da fita, um miragem. Que o amor não nos deixa margem, obriga e cria uma desvantagem. Só quem se perdeu sabe que é de coragem, abrir os olhos, viver de passagem porque dói ser de verdade quando nessa verdade só existe o comandante do barco Saudade.
O fado que eu escrevi, foi o que para mim quis. O fado que me foi escrito, eu cumpro e nem acredito.