sexta-feira, 19 de agosto de 2011

.Tempo (a ti que mo fazes demorar)

Tempo, que es tão pequeno no relógio,
Tão cheio de manhas e tanto critério
Não se te diga o que é tão óbvio,
Se te marque como Rei do Mistério.
Passaste tão depressa no que foi bom,
Passas tão devagar à beira da morte
Que já só quero que venha de bom tom
Acabar com o que falta da minha sorte.
O amanhã, tão pior e tão cheio de nada,
Cheio de tempo que custará a passar,
Pensa que na cama onde fui amada,
Outro alguem te vai também amar.
E agora, tempo, que te digo e faço?
Teimas em lavar a minha roupa suja.
Do coração, já só tenho meio pedaço
Passa logo para que por ti, fuja.
Não sei se digo como bem-amado,
Quando amada afinal já não sou,
Sei que, rápido, és tão desejado
Como o que tão rápido por mim passou.

O fado que eu escrevi, foi o que para mim quis. O fado que me foi escrito, eu cumpro e nem acredito.